Escuto o vento pesado
que vem ferir a janela:
hálito da cidade, onde
navegam escuras pétalas
de ar morto, mortos perfumes,
ausência de asas, gorjeios
degolados. Nada adianta
fechar janelas e portas
e paredes: esse sopro
destroça a nuvem do peito
e somos só engrenagens
cumprindo a fria tarefa
de edificar o trovão
da cidade.
Sem saber
que para nós, quase todos,
esse amplo ruído é
uma forma de silêncio.
Como crepitar das chamas
para o inquilino do incêndio.
Ruy Espinheira Filho
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