05/10/2011

CHUVA DE OUTUBRO



Cai uma chuva fina,
lamento de deuses
por verdes arrozais.

Vergados camponeses
conduzem velhos arados,
sulcam o arco da terra.

A epiderme do chão fende-se
vermelha em longas trincheiras
de suor e lágrimas.

Casas, galpões e cercanias
pairam no tempo
em piedosas litanias.

Nuvens brancas,
outras grisalhas,
cismam dores esquecidas.

Há na natureza
o ardil dos destemidos,
rumores de pingos no teto.

Outubro é assim,
especialmente nas cheias:
as águas num choro sem fim.

A chuva revela Deus.
As folhas ,ao léu,
dedilham acordes de fogo.

A  chuva revela outubro,
A terra com sede,
Colheitas de verde e quimeras.

Onévio Zabot
In Arco de Pedra
foto de El Virtu

Nenhum comentário: