28/11/2011

A MORTE, AMOR...


Sempre ouvi que tua sombra perpassa
pelos parques, entre os salgueiros,
debruçando nos bancos a brancura
de tua forma adolescente.

Sempre ouvi que abandonavas
teus vestidos no leito dos rios
e surgias da noite repartindo
teu corpo no ventre da cidade.

Os mais velhos comentam ( apaziguados?)
que na transparência de teus braços
um segredo mais fundo espicaça
os desejos (espúrios) dos espíritos.

Mas ninguém me falou nunca da distância
que vai de minha angústia a teu silêncio.
Nunca me disseram que existe um tempo
refluindo a teu regaço de vertigem.

E toda vez que me consomes o fôlego
no torvelinho  de teu mar, de dentro
uma dobra da vida se desdobra 
e a morte, amor, se gasta sutilmente.

Gilberto Mendonça Teles
In Poemas Reunidos
tela Manet   

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