a Valério
Passei bem perto da Morte,
mas sequer lhe dei bom-dia.
Ela tentou me falar,
porém fiz que não a via.
O que me diria a Morte
(depois me perguntaria)
se eu me houvesse disposto
a ouvi-la naquele dia?
Mais prudente não saber...
Mas, vos digo, apostaria
que uma coisa, sim, a Morte
certamente não diria:
que a Vida é melhor que ela...
(o que feliz me faria,
mesmo sendo algo sabido
desde o meu primeiro dia)
Pos foi: bem perto da Morte
passei, sem lhe dar bom-dia.
Nem deixei que me falasse,
fingindo que não a via.
Assim creio que será
sempre o nosso dia a dia:
ela, tentando falar-me;
eu, negando-lhe o bom-dia.
Isto até que ela me mostre
(será o mais belo e bom dia!)
os papéis comprobatórios
de sua aposentadoria.
Ruy Espinheira Filho
In Sob o Céu de Samarcanda
tela Linda Wood
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