01/11/2011

NÃO ME DESPEÇO...


Não me despeço de ti, Poesia,
mais fácil seria despedir-me de mim
se me deixasses.
És a  semente.Continuas
indiferente a tudo o que não seja
a fome de teus frutos.Eles erigem
múltiplos mundos e neles te transformas.
Devolvida à luz, a semente morta
é árvore tenra.
Dizer-te adeus: imperdoável mentira.
Encontro-me contigo em mil variantes do dia
em mil disfarces te reconheço.
Que importa o nome escolhido, a língua
o homem a mulher que cinges amorosamente?
Eu te amo, é tudo.Nessa unidade
o que muda persiste.Zenon e Parmênides
nela se encontram, ambos tinham razão.
É o voo parado a música liberta
de suas partituras.É o Deus sem insígnia,
o que é sem querer: um súbito riso
contatos de amor voando nas sementes
da chuva primaveril.

Dora Ferreira da Silva
In Cartografia do Imaginário
   

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