É a montanha dos porfiosos granitos,
é a montanha das vigílias e do sono propiciatório,
a montanha viva.
O coração humano desconhece repouso.
Cada dia é mister renascer para a luta.
Sem trégua as picaretas golpeiam a rocha à procura da linfa
os olhos queimam de sol a sol decifrando enigmas.
E quando à noite o fatigado corpo se abriga
no semitorpor cerrando a franja das pálpebras,
eis que os ouvidos temerosos se enleiam:
o uivo de soltas alimárias atravessa paredes,
friamente penetra o sagrado refúgio do homem.
Porém a lâmpada que arde na sombra pendurada a correntes
é seiva de tronco alimentando o rubor de entreabertas orquídeas,
é gota a gota o sangue azul a consumir-se em oblata.
Perde-se então aos poucos nas quebradas da serra
o uivo longínquo das olimárias.
O coração humano desconhece repouso.
O homem se inscreve cada dia na eternidade
com uma nova presa debaixo dos pés.
Henriqueta Lisboa
In Miradouro e Outros Poemas
foto por Rivertay
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