18/12/2011

AS PROVAÇÕES


É a montanha dos porfiosos granitos,
é a montanha das vigílias e do sono propiciatório,
a montanha viva.

O coração humano desconhece repouso.

Cada dia é mister renascer para a luta.
Sem trégua as picaretas golpeiam a rocha à procura da linfa
os olhos queimam de sol a sol decifrando enigmas.

E quando à noite o fatigado corpo se  abriga
no semitorpor cerrando a franja das pálpebras,
eis que os ouvidos temerosos se enleiam:
o uivo de soltas alimárias atravessa paredes,
friamente penetra o sagrado refúgio do homem.

Porém a lâmpada que arde na sombra pendurada a correntes
é seiva de tronco alimentando  o rubor de entreabertas orquídeas,
é gota a gota o sangue azul a consumir-se em oblata.

Perde-se então aos poucos nas quebradas da serra
o uivo longínquo das olimárias.

O coração humano desconhece repouso.

O homem se inscreve cada dia na eternidade
com uma nova presa debaixo dos pés.

Henriqueta Lisboa
In Miradouro e Outros Poemas
foto por Rivertay

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