14/01/2012

ACALANTO


Hoje dormirás a noite dos rios silenciosos
fluindo no tempo
as mornas águas do verão desfiando
os cabelos noturnos
por entre os velhos paredões da ponte.
A noite descerá dos eucaliptos
prenunciada pelas primeiras folhas
devolvidas ao solo.
Mas não haverá serenatas:
isso implicaria o passado
e a voz que tece aos teus ouvidos
vem mais da certeza do amanhã
que de murmúrios confundidos
em tramas de luar e vozes tristes.
Onde estarei em tua noite,
morta que foi a última estrela?
Onde estarei depois dos longos caminhos,
se me obstino em ter os rosto voltado para a frente?
A rua da província corre com o vento
para os altos descampados;
e este poste que fura um túmulo de luz
na noite sem mistérios
devolve a minha sombra aos teus domínios lentos
quase desfeitos na névoa do sono
que te cobre.

Ivo Barroso

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