10/01/2012

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A morte não sobrevivi assim tão nitidamente delimitada,
observa, atenta, os que adoecem sem morrer.
Não queiras a morte enferma - todo o nascimento é novo
na doce corporeidade de nossos ossos.

Falas da sombra? Da alma, da tua alma? - ela é o arco
que não compadece com a deformidade, silencioso fruto,
tronco esguio,ágil, mas só, curva de um jardim no regresso
a casa, a tua casa, de uma opacidade celeste.

Quem está só guarda um segredo - vivo segredo no fluxo
das imagens captadas pelo espírito de um primeiro encontro
sem infâmia. A voz, tua voz, repousa na debilidade
de uma outra voz - rígidas na distância, incolores, as palavras
inquietam-se e apaziguam-se na concentração da sombra,
leve sombra, erguida contra a putrefacção circundante.

Todo o que consola cumpre o destino de uma morte sã - o resto
é fragmento, questão de sintaxe,melodia fácil. O violoncelo
celebra demasiado alto nosso tempo de ruínas entoando uma
primitiva melodia. E só tu sustentas a palavra iluminação.

Ana Marques Gastão
In A definição da Noite
tela Matteo Arfanotti
      

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