03/02/2012

A MORTE DOS PAJÉS




não se ouve o som dos tambores
mataram os pássaros raros de coloridas plumas
trocaram os bons espíritos das aldeias 
pelos demônios ambiciosos do subsolo do garimpo

Ianomami Ianomami
geme a terra ferida
acorda povo da mata
protege as ribanceiras do Amazonas
não vira cobaia calada
não cai na ciranda da colônia
resgata essa força teus instrumentos
sai dessa rede inútil
Ianomami

Ianomami Ianomami
murmuram os povos mais distantes
poupa teus filhos indesejáveis
doma teus instintos da sanha feroz de Omame
acorda teus Pajés antes que as estrelas caiam
mira tua lança no alvo branco
para que não te olhem momumento singelo
múmia inerte de um império verde que se esvai
Ianomami

Ianomami Ianomami
protege o igarapé enlameado
esconde esse ouro da minha avidez
alerta teu clã da lábia barata
do lixo atirado aos valentes tuxauas
fecha teu corpo com a força de Yang
garimpeiros e seringueiros
o bicho ruim que te fareja distante
no santuário dos íngremes caminhos
Ianomami
são todos eles
sou eu.

Maria Odete Olsen
In Sem rimas e sem razão
foto Andujar, Claudia

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