Amém e adeus
São palavras do princípio e do fim.
Amém para que tudo se consume um dia
Segundo foi prometido e está escrito.
Amém da manifestação concreta do mistério,
Amém para o recém nascido e para o recém morto,
Que tudo se inscreva no amém.
Adeus tanto ao partir como ao chegar,
Adeus para aceitar antecipadamente
Que Delícia e Prazer
Sejam anulados amanhã,
Adeus inscrito em letras de pastores no topo do berço,
Adeus ao universo que desde já se descola,
Adeus ao irreversível jasmim de amor,
Adeus a todos que nos precederam
E àqueles mesmos que virão depois,
Adeus e amém.
Adeus, palavra da intimidade da desolação,
Amém, palavra da intimidade do juramento e da promessa,
Amém para transformação do símbolo em realidade,
Amém e adeus da luz branca,
Amém do olhar funerário e ressurgido,
Amém e adeus, palavras do infinito íntimo
Que também se manifesta
Em núcleos de letras mínimas e de som,
Adeus dos sinos e da fonte oculta,
Adeus da asa do pássaro e da vela,
Adeus e amém.
Murilo Mendes
In Dispersos/ O Infinito Íntimo
foto de Martin Moos
2 comentários:
Bom poema de Murilo Mendes, é dele mesmo. Mas o Murilo tem melhores, só que eu não sei de cor nenhum deles. De qualquer forma, boa poesia para meditação.
atenciosamente
franciscomigueldemoura.blogspot.com
meu blog tenho também
http:ciradinhapiaui.blogspot.com
Concordo com você,Poeta, Murilo Mendes possui poemas melhores, mas justamente por nos levar a reflexão escolhi este.Obrigada pela visita!
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