PALAVRA
Pego a palavra amor e dentro
dela semeio o meu sigilo:
este rumor de mar batendo,
esta paixão, este suspiro.
Repara como vai ficando
densa a estrutura desse termo:
é como se as coisas que planto
contivessem ossos e nervos.
É como se houvesse no fundo
alguma luz, um pouco de alma,
como se o pouco fosse muito
e muito tudo o que me falta.
Daí ser preciso ir ao ponto
interior do que a contorna:
o espesso que se vai compondo
no corpo vivo que se forma.
E bem devagar ir abrindo
não a palavra - o seu caroço:
a essência mesma do recinto
que sabe a mel, de saboroso.
E só depois, além do grito,
sobre a beleza do momento,
ver no percurso acontecido
o que ficou acontecendo.
Gilberto Mendonça Teles
In Plural de Nuvens
tela Yuri Dubini
Nenhum comentário:
Postar um comentário