Por onde anda o Anjo,
onde é que se esconde?
Não adianta dizer
que está em minha alma,
pois isto bem sei
e em nada me acalma.
Que na alma está,
como sempre, em névoas
e luzes de mim,
em seu corpo etéreo
e eterno enquanto
um sopro de vida
se sonhar em mim,
tudo o que sou eu
sabe intensamente
- e por isso canta,
vibra como um
sino de alegria! -,
porém o que quero
é saber por onde
se perde - ou em onde
se esconde - o outro Anjo,
que é o corpo do Anjo,
agora de mim
tão oculto assim.
Ah,o Anjo em seu corpo!
Muito menos leve
que o outro, de névoa.
Aliás, sem leveza
nenhuma, que Anjo,
já se sabe, é denso
de tal forma que
pode nos matar
mesmo com mais leve
do seu toque mago
(ainda que breve,
ainda que afago).
O outro Anjo, o etéreo,
baila na lembrança,
carinhoso e aéreo...
O Anjo em seu corpo
é como um sol louco
que torna em estrelas
o opaco de nós,
que transmuda em chamas
o que era pó.
É por este Anjo
que pergunto agora,
lançando um apelo
pelo mundo afora,
pelos céus afora,
pela Vida afora!
Porque o outro Anjo,
aquele de névoa,
que a memória branda
na doçura rege,
é consolo, sonho,
às vezes (já disse)
sino de alegria
e (também às vezes)
cálida poesia,
mas falta-lhe o corpo,
um corpo de Anjo.
Que é o que estou buscando,
implorando, rouco,
por esse sol louco!
Que me venha o Anjo
em seu corpo, agora!
Quero-o todo aqui,
ou posso encontrá-lo
se me der qualquer
pista de seu fado.
Preciso do Anjo
em seu corpo, o Anjo
pleno, mesmo que
depois de acender-me
me despreze em trevas
Não importa, estou
já farto de névoas!
Preciso perder-me
nesse flamante,
sob o qual terei
- ainda que só
por ínfimo instante -
também corpo de Anjo!
Ruy Espinheira Filho
In Sob o Céu de Samarcanda
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