17/06/2012

ESTAÇÕES



Não sou o outono
Não tenho folhas caindo e quero avisar que não me filtro na luz
Que precede o inverno.

Quero avisar que não me sucedo
Não morro nem renasço
E não me recrio do húmus e do tempo
cíclico.

Apenas me indago
e me embriago
numa atmosfera de sons e desejos
e as experiências que me negaram
rejeito-as como as folhas de outono que não tenho
e não posso fertilizar.

Estou do outro lado
Dos fenômenos metereológicos
E dos ciclos vegetais da vida
E me enfado na composição de termos
Que reciclam a simbologia de minha memória
E os terríveis segredos de minhas palavras
Usadas e pensadas.

Não sou o outono
Não fui outras coisas
E me perco em memórias 
E confusos acontecimentos sem registro.

Sou uma estação
Em que me sinto apenas
um itinerário de coisas e pessoas
A maior parte indiferente.

Como as folhas que murcham
Morrem, caem e fertilizam,
necessito que me deem um sistema
para não ser visto
não ser palpável
e onde eu não perceba o outono
que precederá minha morte.

Álvaro Pacheco
In A Balada e Outros Poemas
tela Leonid Afremov 

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