08/09/2012

NUA E CRUA


 
 
Não sou gente grande o tempo todo:
tenho medo do escuro,
de sombras que se esgueiram por detrás dos muros,
do bicho amoitado no jardim.
Meu barco  de papel desce na enxurrada,
lambuzo os dedos com  marmelada,
às andorinhas revelo  meus segredos.
Coleciono joaninhas na caixa de sapato.
A tarde cai, finda o primeiro ato.
 
Na cena seguinte e obrigatória,
sou um adulto frente ao noticiário.
O comentário é triste,
a visão é turva, o som é rouco.
O locutor insiste.
Frágil me curvo, e morro mais um pouco.
 
Flora Figueiredo
In Chão de Vento
tela Irina Kotova
 

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