21/09/2012

POEMAS BRANCOS




I
 
Com essas mesmas palavras
vejo a varanda secando
suas penugens ao sol. Vejo ainda
quanto é inútil o ser e o não-ser:
 
Minha perplexidade desiste de tudo
e mastiga violentamente
os primeiros sons
                            da
                        manhã.
 
II
 
Retorno da natureza
esta branca nostalgia.
Viajo pela matéria
                 de braços com satanás:
Ó anjo anunciador, levai-me ao passado
onde desmancharei a vida futura,
onde serei sinistro como
                             o coito
                   dos girassóis.
 
III
 
Com essas mesmas palavras
dirijo a revolta dos deuses.
 
Aqui plantei um violino,
refiz donzelas, dei de beber aos planetas.
Ó realidade,
há séculos eu te procuro!
Nas regiões do dia e da noite
sou uma lâmina que respira.
 
O tempo amordaçado
me espera.
 
IV
 
Quero a palavra que traduza
a medicina dos anjos,
a virgindade anterior  ao pensamento.
Quero a nuvem que habita,
                                    não
          sua forma profanada.
 
Desta pirâmide
assistirei o absoluto desfolhar-se
como as grinaldas da tarde.
 
V
 
Minha morada é o silêncio.
Esta notícia que levo
já não diz que houve  lutas
                        entre o bem e o mal.
 
Sete trombetas proclamaram
a união das sementes:
Essas bodas  que iniciam
os tempos de danação.
Tanto remorso me engasga.
 
Adeus, mundo, eu não sou daqui.
 
Rio, 1966
 
 
Cacaso
In A palavra Cerzida 

Nenhum comentário: