08/01/2013

A INFÂNCIA REDIMIDA




A alegria, crio-a agora neste poema.


Embora seja trágica e íntima da morte
a vida é um reino - a vida é o nosso reino
não obstante o terror, o extase e o milagre.

Como te sonhei, Poesia! não como te sonharam...

Escondo-me no bosque da linguagem, corro em salas
de espelhos.
Estou sempre ao alcance de tudo, cheio de orgulho
porque o Anjo me segue a qualquer parte.

Tenho um ritmo longo demais para louvar-te, Poesia.
Maior, porém, era a beira da praia de minha cidade
onde, menino, inventei navios antes de tê-los visto.
Maior ainda era o mar

diante do qual todas as tardes eu recitava poemas,
festejando-o com os olhos rasos d'água e às vezes
                                     sorrindo de  paixão,
porque grande coisa é descobrir-se o mar, vê-lo
                               existir no mundo.
Ó mar de minha infância, maior que o mar de Homero.

Brinco de esconder-me de Deus, compactuo com as fadas
e com este ar de jogral mantenho querelas com a morte.
Depois do outro lado, há sempre um novo outro lado
 a conquistar-se...
Por isso te amo, Poesia, a ti que vens chamar-me
                                           para as califórnias da vida.
Não és senão um sonho de infância, um mar visto 
                               em palavras.

Ledo Ivo
In O Sinal Semafórico
tela Sandra Bierman

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