27/01/2013

POEMA I



Mulher, quero que sejas como és,
mal surgindo assim da escuridão,
como te vejo agora, como nunca 
mais te verei.

Como nunca mais. Por isso quero
que sejas como és neste momento,
que o tempo se detenha em teu olhar
 e neste amor
que se desprende de ti como fruta de um ramo.

Imóvel diante de mim, tu serás no meu destino.
Em troca, não sou nada.
Sou a atitude contemplativa de todas as coisas
que convergem para ti e que de  ti se afastam.

Sou o estreito cercado de musgos que rodeia 
a glória do rosal que estala,
ou a faixa do rio multiplicada em gotas
em cada pedra da montanha.

Mulher, inútil o desejo
e inúteis todas as palavras.
Mudas no minuto como a dor,
como a luz na água.

Olha-me muito,
nos olhos abertos que amanhã fecharei 
para neles guardar o teu olhar 
contra o aguaceiro do tempo
que chove sempre lágrimas!

Pablo Neruda
In O Rio Invisível  
tela Carrie Vielle

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