Raia o sol, suspende a lua,
o palhaço está na rua.
Tremula a lona na praça,
tempos de assombro e de graça.
Ah, que gente tão risonha
nesse cidade que sonha
tigres, grifos, leões de oiro
mulheres em voo loiro,
vindas de rússias e franças
- e acima das esperanças ...
Nunca além de uma semana
permanece essa profana
prova de que Deus existe
e nem sempre a vida é triste.
Baixa o sol, se esconde a lua,
não há mais nada na rua,
caminho de pó e vento,
formigas, cão sonolento...
Porém já nada é tristonho,
pois fica um sabor de sonho
- inferno a tempo e distância -
a nos sonhar essa infância.
Ruy Espinheira Filho
In Estação Infinita e Outras estações
Arte Marc Chagall
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