06/10/2021

BRASÍLIA



 Para Tancredo Neves

O poder  se dilui em sorrisos
mas não disfarça as rugas dos rostos
onde olhares cansados 
testemunham sobressaltos e angústias

Há cigarros e rabiscos nervosos
em papéis sobre a mesa
em que se debruça a República
com seus homens sofridos
e os problemas que desfilam à meia-voz

Na sala, os gestos 
e o calor dos debates 
se refugiam nas sombras 
da paisagem monótona

A linha do horizonte 
separa o Palácio 
do Brasil que tem fome 
das terras sem semente
dos meninos sem mestre 
dos enfermos sem remédio
dos trabalhadores sem ferramenta
dos moribundos sem esperança

            e das crianças que nascem 
            para um futuro melhor.

Mauro Salles
de O Gesto
arte Andrius Kovelinas
 

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