25/09/2008


by Pierre Auguste Renoir

GATOS NOTURNOS

Quantas estrelas tem um gato
me perguntaram em Paris
e comecei tigre por tigre
a espreitar as constelações:
porque dois olhos espreitantes
são palpitações de Deus
nos olhos frios do gato
e duas centelhas no tigre.

Mas é uma estrela a cauda
de um gato eriçado no céu
e é um tigre de pedra azul
a noite azul de Antofagasta.

A noite gris de Antofagasta
se eleva sobre as esquinas
como uma derrota elevada
sobre a fadiga terrestre
e sabe-se que é deserto
o outro rosto da noite
tão infinita, inexplorada
como não ser das estrelas.

E entre as duas taças da alma
cintilam os minerais.

Nunca vi um gato no deserto:
a verdade é que nunca tive
para dormir mais companhia
que as areias da noite,
as circunstâncias do deserto
ou as estrelas do espaço.

Porque assim não são e assim são
minhas pobres averiguações.

Pablo Neruda

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