21/07/2009


Foto de Henri Bonell

FOI UM ADORMECER

Foi um adormecer de impressentida
Onda se desfazendo em minhas pálpebras.
Abriu-se a madrepérola: meu fôlego
Pode invadir, queimando, a virgem angra.

Há-de ficar por entre dunas, há-de
Transformar-se em aragem, a soprar
A brancura de sal das tuas margens
Onde fiquei de bruços como um bote.

Tuas algas pegavam minhas mãos
Para feri-las nos penedos duros
Batidos das marés que refluíam

Salsugem de meus lábios. Eram seios
E neles me feri. Depois, o adormecer
Cobriu-me como um morto sob espumas.

Jorge Medauar
In Jornal da Poesia

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