29/07/2009


Foto de Vaeltaja

Quase fora do céu ancora entre montanhas
a metade da lua.
Girante, errante noite, a escavadora de olhos.
Faz uma cruz de luto em minha testa e foge.
Frágua de azuis metais, noite das silentes lutas,
meu coração dá voltas como um volante louco.
Donzela vinda de tão longe, trazida de tão longe,
às vezes lhe refulge o olhar debaixo do céu.

Queixume, tempestade, remoinho de fúria
passa por sobre o meu coração, não te detenhas.
Vento dos sepulcros, carrega,destroça,dispersa
tua raiz sonolenta.
Atira as grandes árvores ao outro lado dela.
Tu porém,virgem clara, pergunta de fumo, espiga.
Era a que ia formando o vento com folhas iluminadas.
Atrás das montanhas noturnas, branco lírio de incêndio,
ah, nada posso dizer! Era feita de todas as coisas.

Ansiedade que partiste meu peito a cutiladas,
é hora de seguir outro caminho onde ela não sorria.

Tempestade que enterrou os sinos, turvo revoar de
[tormentas,
para que tocá-las agora, para que entristecê-la?

Ai, seguir o caminho que se afasta de tudo,
onde não estejam vagando a angústia, a morte, o inverno
com seus olhos abertos entre o orvalho.

Pablo Neruda
In Vinte Poemas de Amor

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