19/07/2009


I and The Village, 1911 by Marc Chagall

ATÉ QUE OU TEMPO OU VENTO APAGUE A CHAMA

Até que ou tempo ou vento apague a chama,
falarei destas coisas que nos fazem
um pouco mais amigos, mais irmãos,
porque circulam, digo, circulavam
nos ares que aspirávamos, tomados
por um fluxo de vida que habitava
a paisagem lembrada e destruída.
Não somos carpideiras, não choremos
Sião neste desterro ou o local
onde Tróia existiu. Antes, cantemos
o que resta e não é resto carcomido,
o que salta do solo, solto no ar,
borboleta, gaivota, sobre o mar,
e voa entre edifícios, vôo calmo,
repleto do que fica e já não voa
como outrora voou, mas nesse voo
declara seu desejo e afirma o não
que se anuncia à morte, quando a vida
perpassa pelos fios das artérias
como potro lançado contra o vento,
a cegueira da noite e o temporal.

Reynaldo Valinho Alvarez
In O Solitário Gesto de Viver

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