10/08/2009


Foto de vandevoern

MELANCOLIA

Esta tarde fui com as crianças visitar a sepultura
de Platero,lá no horto da Piña,à sombra do pinheiro
copado e paternal.Em redor, abril enfeitara a terra
úmida de grandes lírios amarelos.
No alto, cantavam os passarinhos, na copa verde,
sob o céu azul, e seu trinado miúdo, colorido e
risonho perdia-se na dourada transparência do
lusco-fusco vesperal, como um claro sonho de amor
novo. As crianças,logo que chegaram,fizeram silêncio.
Quietas e graves, os olhos brilhantes nos meus olhos,
encheram- me de perguntas ansiosas.
- Platero amigo!- perguntei eu, voltando-me para seu
túmulo: - Se, como penso,estás a esta hora nos prados
celestes e carregas em teu lombo peludo os anjos peque-
ninos, terás acaso,me esquecido? Platero,diz-me: ainda
te lembras de mim?
E,como respondendo à minha pergunta,uma diáfana
borboleta branca, que eu antes não tinha visto, pôs-se
a voar e a revoar,com insistência,como uma alma,por
sobre os lírios.

Juan Ramón Jiménez
In Platero e Eu

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