21/09/2009


by Willem Haenraets

I

O sabor de tua boca e a cor de tua pele,
pele,boca,fruta minha destes dias velozes,
me diz,contigo foram sem cessar
por anos e por viagens e por luas e sóis
e terra e pranto e chuvas e alegria
ou só agora,só
saem de tuas raízes
como à terra seca a água traz
germinações que não conhecia
ou aos lábios de cântaro esquecido
sobe com a água o bom sabor da terra?

Não sei, e não me digas , tu não sabes.
Ninguém sabe essas coisas.
Aproximando os meus sentidos todos
da tua pele em luz, desapareces,
te fundes como o ácido
aroma de uma fruta
e o calor de um caminho,
o cheiro do milho debulhado,
a madressilva de uma tarde pura,
os nomes de uma terra poeirenta
o perfume infinito: minha pátria,
magnólia e matagal, sangue e farinha,
galope de cavalos,
a lua poeirenta de uma aldeia,
o pão recém-nascido; tudo
de tua pele volta à minha boca,
volta ao meu coração, volta ao meu corpo,
e volto a ser contigo
a terra que tu és:
sempre és em mim profunda primavera:
volto a saber em ti como germino

Pablo Neruda
In Versos do Capitão

Nenhum comentário: