21/09/2009


by Willem Haenraets

SOMBRA

Tem um lugar no meu quarto
em que a luz não entra.
Tudo que se tenta
não dá certo.
Em vão tirar telha,
abrir janela,
furar o teto.
Postou-se ali um escuro
soturno e quieto,
recentemente diagnosticado.
É uma fração de passado
que o tempo não leva
para não rever fatos,
e que a vida ceva
porque é da vida consevar mandatos.
Para que o escuro seja então cassado,
é preciso um clarão qualificado,
capaz de sorvê-lo em sucção;
que durante o processo de deglutição
use artimanha,
até transformá-lo em cavidade.
É nesse vão que vai florar felicidade,
parida da entranha do bicho-papão.

Flora Figueiredo
In Amor a Céu Aberto

Nenhum comentário: