12/10/2009
Goldfish by Henri Matisse
RÉQUIEM
Não estamos nunca vivos.Vivos!
Pra que a vida? Para enrijecer o coração,
tornando-o lilás com essa ausência de tudo
o que eram ondas,mulheres,quartetos de Haydn?
Não vivos!Começo a embrutecer o som oblíquo,
a perder de vista os olhos, o traço de Matisse
nas barbatanas de miúdos peixes vermelhos.
Nunca vivos! Agora com medo da morte.
A morte nunca foi algo que pudéssemos esquecer.
Não estamos vivos. Nada dorme no céu.
À sombra íntima de mim sais-gusanos,
renegados apelos e caliças,prata dúctil,
parada treva,gaivotas desabadas no vento vivo,
certas esquinas saturadas de amendoeiras.
À sombra íntima de mim molossos,ossudos e ferozes,
guardam meu sono para que eu levite com o movimento
de tuas asas para o alto, ó Anjo!
Melhor se mostra o que melhor se esconde.
Nunca vivos!
O céu: um sonho antigo.As pedras,
no céu de Rafael Alberti,inofensivas.
Fernando Karl
In Diário Estrangeiro
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