21/01/2010


foto by naasadovento.wordpress

AZUL POEMA AZUL PARA MARIO QUINTANA

Acima dessas frágeis manhãs que te guardam
há o irreversível azul que persiste em teus olhos
atravessando os dias e as noites em que habitas:
há revoadas de anjos sonâmbulos
azulinos pássaros voando contra o azul
sons d'água pura a escorrer da bilha
inundando de azul o arco do algibe
- o mais límpido cristal de tuas fontes -
à luz vertente da estrela Aldebarã!
Além dessas silenciosas sombras que te envolvem
há um caminho florido em azul para trilhares
enquanto o vento dorme azulecido nos telhados
das casas e ruazinhas tranquilas da cidade
azulejadas dessas coisas tão mínimas da vida
que tu cantavas e luarizavas nas canções
sob a luz dos lampiões nas esquinas da poesia
onde encontravas moedinhas perdidas pelo chão
naquela mesma luz que há de estar a enluarar agora
as altas janelas de teus sonhos!
Através dessas sombras solitárias de tuas pálpebras
a palavra azul esplende nos diamantes
que tuas mãos poliam e teus olhos pintavam
e teus sonhos sonhavam nas enchentes de luz:
o fino hastil do poema soprado pelo vento
que se escondia no horizonte azulíneo do Tempo
em que Cecília te chegava de um pátio de infância
os olhos profundos e as mãos eternamente amadas
a dizer-te que nem tudo está perdido:
que tu nunca morres e nem te esqueces das palavras.

Maria Lucia Nasimento Capozzi
In A Literatura Possível

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