19/01/2010


by John Byam Liston Shaw

HISTÓRIA BURGUESA

Era à luz dos lampiões de querosene
Que a gente fazia os deveres escolares.
Nas paredes, São Jorge e o seu cavalo branco
Nos sugeriam - que digo? - nos impunham mais
[graves deveres...
E ninguém notava.
Depois, a lâmpada elétrica e , nas paredes
O Marechal Deodoro a proclamar sempre e sempre
[a República
- e ninguém notava.
Enquanto isso, em todos os centros-de-mesa de todas
[as casas burguesas
Ostentava-se a grande moda das flores artificiais
- Todo o mundo notava.
[ O que é a natureza! - dizia Dona Glorinha - até
[parecem verdadeiras!
Até que um dia um Papa decretou
que São Jorge jamais havia existido.
Agora, apenas o seu cavalo branco ainda corre
[solto por aí...
(Mas ninguém, ninguém se atreve a montar num
cavalo fantasma)

Mario Quintana
In Preparativos de Viagem

Um comentário:

Fernando Campanella disse...

Lindo o poema do Quintana, Dione. Tem a linda informalidade e doçura do coração. Um abraço, minha querida amiga.