12/06/2010

ENDEREÇO



Não me procure em casa,
estou sempre fora dela,
mesmo que dela nunca saia
- e sair é ainda estar nela.

Não me procure nos livros,
que são só uma forma de exílio.
O personagem no qual me invento
está um pouco aquém do vazio.

Me procure na velha cidade
sabendo que ela foi destruída.
Estarei sempre lá, nas ruínas,
vento roendo velhas rimas.

Confesso aqui que não existo.
Estas palavras são do fíctício
ser que crê estar a escrevê-las
- sou o nada que as emprenha.

Miguel Sanches Neto
In Venho de Um País Obscuro

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