25/07/2010

CAÇADOR DE ANJOS



"As dádivas dos anjos são inaproveitáveis".
 Manuel Bandeira

Esculpo anjos no ar,
caçá-los.
Mais uma vez não sei para onde vou.
Sei que o lugar existe,
estive lá.
Foi necessário,
por mim, por ti.
Morrer me come, me bebe.
Eu enterrado no vendaval,
raça de pedra longa, fortuito visgo
que ampliou forma e falas.
Mais uma vez e pode ser a última.
Beijo a veia azul de teus pés.
Eu, caçador de anjos, invado o coração minúsculo
do visível, farejo cão - nuvem no terraço -
cão de nuvem para tornar estranho este poema.
Noite no terraço.
No terraço baldes vermelhos são deuses.
Abandono as palavras.
Um anjo escreve com punhal em meu peito que
 todas
todas as noites são jovens.

Fernando Karl
In Diário Estrangeiro
foto da  galeria de ღĴęNňζ™ no Flickr

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