28/09/2010

TÁBUA DO TEMPO



Aquele homem
gentil de palavras
e sabedoria
abriu uma janela para o céu
no viso da colina
o calor da tarde sufoca os campos
e dá corpo aos girassóis
aqui ouve-se o canto da cotovia
mas talvez a casa de xisto
nunca seja habitada em vida

a sua entrega e engenho no pensar
assusta ainda muita gente
fantasmas de peito vazio sem outro destino
visível

ele vai sucumbir em breve
sem lhe darem a alma devida
se é que o vão recordar um dia

mesmo assim consegue esquecer tudo o resto
e mais uma vez na solidão do quarto
escreve na tábua do tempo
o poema da manhã seguinte

João-Maria Nabais
 do livro Sons de Urbanidade
tela de Igor Levashov

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