15/11/2010

PALAVRAS DE AMOR


















Nesta noite estrelada beijei as tuas mãos...

Pensa, eu que te  vi perdida e recobrada;
pensa, eu que me afasto de ti quando me esperas;
pensa, esta dolorosa paz do campo adormecido
perfumado das flores e das frutas primeiras...

Tu sabes, tudo. Tu escutaste tudo
com os imensos olhos perdidos na distância;
quando eu me calo, tu me olhas e cai da minha boca,
como uma flor cortada para a tua boca, o meu beijo.
(Esta é a despedida quando apenas chegava,
isto é tocar apenas os portos e partir...
Que teus braços me amarrem, que não me deixem ir
para tocar apenas outro amor e partir)

Ouves minhas palavras e recolhes os meus beijos,
e prolongamos juntos o silêncio do campo
riscado pelos duros ladridos dos cães
e pela numerosa canção dos nossos passos.

...Nesta noite estrelada beijei as tuas mãos...

De despedida, cruzo o teu amor e tu me deténs.
Vou dizer-te adeus e teus olhos me queimam;
vou dar-te a angústia que me golpeia as têmporas
e galopa em minhas veias como um centauro louco,

mas minha voz tornou-se cantante e fervente
e meus dedos te revolvem a cabeleira escura;
nesta noite estrelada minhas palavras se pedem
e caminhamos ébrios da mesma doçura.
...Ah! sabes tudo, tudo. Tu escutaste apenas,
no entanto sabes tudo.

Pablo Neruda
In O Rio Invisível
foto de   bugman11 no Flickr

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