02/01/2011

PRIMEIRA CARTA - A EXPEDIDA
























Lugar Qualquer, 12 de outubro de Qualquer ano.


EXMO.Sr.TODO MUNDO

Sou o que necessita
da palavra
amor
do pão,
das vestes de um homem digno.

Sou uma solidão
coletiva
- neste "palácio de espelhos"
há bancos cheios
nas esquinas das ruas.

Sou
nesta melancolia presente
memória devorada,
onde o leite
(lua inesperada no horizonte branco)
onde o pão
( maré alta em vagão de luxo)
onde o respeito
( um fio de sol cortado),

Nas vidraças do mundo
sou uma gota de luz
abandonada nas cabeleiras
da terra.

Sou herdeiro
de todas as solidões.
Sou o incômodo
evitável
no portal da tua casa.

Sou aquela herança
urdida
e necessária
para os moldes capitais.

Sou este campo geral
das coisas,
dos equívocos
e esta medula cancerosa
na espinha dorsal
do meu
País.

E é neste reino
de espantos
onde me acordo
e me adormeço,
e sou feroz
e sou ferrugem
e sou baba corroída
no beijo do pássaro
ferida mão,
- presa rara
mas necessária (?)
nos subterrâneos silenciosos
da vida.

Dizem-me
que a flor metálica
visível em meu rosto
é a sepultura do meu
povo,
grade de meu nome,
- ferida aberta no corpo do mundo (?).

Dizem-me
que açoito minha carne
e não justifico meu silêncio.

Tenho os trovões
do medo,
cicatrizes
e o eco solitário
de todos os humanos.

Tenho cansaços
e arrepios
e o duro suor da existência.

Tu
que respondes sobre o reverso
dos meus sonhos,

tu
que apontas a fragilidade
de meu sangue e fado,

as rupturas de minha estirpes,

meus instintos
e meus temores,

fazei de mim
a serventia da luz
onde o amor dorme
terno.

Tenho a sêde de todos
os anjos.

rachaduras no peito
e desencantos.

Tenho retratos de amores
e cortinas transparentes.

Goteiras nos olhos
e taças transbordando
de vinho casto

Flores mansas
circos e trapezistas.

Tenho jardins predestinados
a florescer
e frutos maduros
no trajeto das coisas.

Outonos e primaveras
entre o sonho e o sono.

Tenho os instantâneos
da raiva,
o berro da alegria
e a dor torcida nos versos
dos poetas,

MAS SÓ NÃO TENHO
A TI.

(Ass.
PEQUENO ESPERANÇA VON CRENÇA)

Eulália Maria Radtke
In Lavra Lírica
tela de Anonymous

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