Lugar Qualquer, 12 de outubro de Qualquer ano.
EXMO.Sr.TODO MUNDO
Sou o que necessita
da palavra
amor
do pão,
das vestes de um homem digno.
Sou uma solidão
coletiva
- neste "palácio de espelhos"
há bancos cheios
nas esquinas das ruas.
Sou
nesta melancolia presente
memória devorada,
onde o leite
(lua inesperada no horizonte branco)
onde o pão
( maré alta em vagão de luxo)
onde o respeito
( um fio de sol cortado),
Nas vidraças do mundo
sou uma gota de luz
abandonada nas cabeleiras
da terra.
Sou herdeiro
de todas as solidões.
Sou o incômodo
evitável
no portal da tua casa.
Sou aquela herança
urdida
e necessária
para os moldes capitais.
Sou este campo geral
das coisas,
dos equívocos
e esta medula cancerosa
na espinha dorsal
do meu
País.
E é neste reino
de espantos
onde me acordo
e me adormeço,
e sou feroz
e sou ferrugem
e sou baba corroída
no beijo do pássaro
ferida mão,
- presa rara
mas necessária (?)
nos subterrâneos silenciosos
da vida.
Dizem-me
que a flor metálica
visível em meu rosto
é a sepultura do meu
povo,
grade de meu nome,
- ferida aberta no corpo do mundo (?).
Dizem-me
que açoito minha carne
e não justifico meu silêncio.
Tenho os trovões
do medo,
cicatrizes
e o eco solitário
de todos os humanos.
Tenho cansaços
e arrepios
e o duro suor da existência.
Tu
que respondes sobre o reverso
dos meus sonhos,
tu
que apontas a fragilidade
de meu sangue e fado,
as rupturas de minha estirpes,
meus instintos
e meus temores,
fazei de mim
a serventia da luz
onde o amor dorme
terno.
Tenho a sêde de todos
os anjos.
rachaduras no peito
e desencantos.
Tenho retratos de amores
e cortinas transparentes.
Goteiras nos olhos
e taças transbordando
de vinho casto
Flores mansas
circos e trapezistas.
Tenho jardins predestinados
a florescer
e frutos maduros
no trajeto das coisas.
Outonos e primaveras
entre o sonho e o sono.
Tenho os instantâneos
da raiva,
o berro da alegria
e a dor torcida nos versos
dos poetas,
MAS SÓ NÃO TENHO
A TI.
(Ass.
PEQUENO ESPERANÇA VON CRENÇA)
Eulália Maria Radtke
In Lavra Lírica
tela de Anonymous
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