26/02/2011

OS ESPÍRITOS DOS MORTOS
























Sozinho, junto ao túmulo, tua alma
se há de encontrar, como um triste pensamento.
Ninguém irá, ninguém, quebrar a calma
da hora sombria de recolhimento.

Silencia naquela soledade
que não é solidão, porque alí, então
espíritos dos mortos, dos que, um dia
vivos, antes de ti, agora estão
na morte , em teu redor, com sua vontade
te ensombrecem, dominam silencia!

A noite franze o cenho, embora clara
e as estrelas o olhar não volvem para
baixo, de sua célica morada,
com luz que é uma Esperança aos homens dada;
mas seus orbes vermelhos, sem clarão,
hão de ser, no desmaio que te alquebre,
como um cautério e como ardente febre
que para sempre a ti apegarão.

E ora ideias que em vão repeles, ora
visões que não apagarás da mente,
povoarão tua alma eternamente,
como na relva o orvalho, em prantos, mora.

Sopro de Deus, a brisa silencia
e, por sobre a colina, a cerração
- intacto véu de sombras - tão sombria
é um símbolo e um brasão.
E como, sobre os bosques, solta, pende?
Eis o enigma que menos se compreende.

Edgar Allan Poe
In Poesia e Prosa
tradução de Oscar Mendes e
Milton Amado
tela de Mark E Dyer 

Nenhum comentário: