16/08/2011

NO BANCO DO JARDIM


aos rapazes de 1964

No banco do jardim
viajávamos ao dia.
A um dia além dos galos
que exalavam a manhã.
A um dia além do dia
que nos dissolvia
no banco do jardim.

Nada sabíamos das
estrelas sobre nós,
nem das brancas formas
nevoentas, frias,
de mortos inconformados
à espreita na treva.
Sabíamos do chão,
seu barro, sua pedra.
Sabíamos dos pés
do homem

no chão.
Sabíamos do homem,
seu passo, seu pulso.
Sabíamos do peito
do homem: sua nuvem,
seus fogos e seu
recôndito marulho.

No banco do jardim
já nada se vê
do tempo arquitetado
palavra a palavra;
do homem do sonho
com o rosto iluminado
na tenda comum
sobre o campo semeado.

No banco do jardim
o silêncio monta guarda
à nossa ausência.
Nada fala
do peso de aço nos gestos
não mais alados;
de como é rouca a voz
ensanguentada.

Ruy Espinheira Filho
In As Sombras Luminosas
foto por kata49

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