23/12/2011

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Caminho devagar nas minhas sandálias,
pouco mais desejo,
mas não sei se caminho devagar
nas minhas sandálias. Ontem foi
dia de temporal, montes ruiram
sobre casas de cartão, famílias ficaram
soterradas.Por um momento
a água recuperou
as suas veias - Poderei olhar
e ouvir como se fosse apenas
um poeta? Poeta sou apenas quando, raramente,
escrevo - no resto do tempo arrasto-me
nas minhas patas de pobre cão desamparado
em busca de um osso, uma pedra
que ensine
a arte da queda.Caminho devagar
entre as ruínas de um deus
que ficou sentado. Talvez possa
encostar-me um pouco
ao milénio que vai nascer.Enquanto começo
a cair, a resvalar
sobre os meus irmãos que ficaram
pelo caminho.

Casimiro de Brito
In Música do Mundo
foto por Butterfly Psyche

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