23/12/2011

"AQUELE RUMOR DE CANTIGAS E RISOS..."



Aquele rumor de cantigas e risos,
ir,vir,conversar;
aquele falar de coisas que passaram
e outras que passarão;
aquela, enfim, vitalidade inquieta
juvenil, tanto mal
me fez, que lhes disse:
"Vão e não voltem mais".

Um a um desfilaram silenciosos
por aqui e por lá,
como as contas rompidas de um rosário
se espalham pelo chão:
e o rumor dos seus passos que partiam
até mim como tal som veio ressoar,
que não mais tristemente
talvez ressoará
no fundo dos sepulcros
o último adeus que um vivo aos mortos dá.

E ao fim me encontrei só, mas tão sozinha ,
que ouço da mosca o inquieto revoar,
do ratinho o roer terco constante,
e do fogo o  "tchis-tchas",
quando da verde rama
o fresco sumo devorando vai,
parece que me falam, que os entendo,
e são meus companheiros;
e este meu coração lhes diz tremendo:
"Não vão embora não!"

Que doce, mas que triste,
também é a solidão!

Rosália de Castro
In Poesia
tradução Ecléa Bosi

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