23/02/2012

A FACA PELO FIO



Estou longe de mim.Sinto-me ausente,
pluma solta no tempo, sem presente
nem passado ou futuro, imponderável,
flexível, transparente, miserável
não-ser plantado  no quintal do nada,
todo feito de nãos, ferido a cada
segundo gotejante de uma noite
que percute na mente como o açoite
de um carrasco embuçado. Quanto riso
provoca este jogral, sem brio ou siso
que o acorde do pesado sono obscuro
em que se deita o seu desejo impuro
de ir na contracorrente, ao arrepio,
como quem pega a faca pelo fio.

Reynaldo Valinho Alvarez
In Galope do Tempo
tela Duy Huynh

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