18/03/2012

O PERSEGUIDO DE DEUS


1

Deus dói dentro de mim como estrela cadente.
Mas por que sua linguagem é de extremos?
Por que fala mais sofrimento? Por que tantas vezes se cala?
Por que esconde a alegria como semente no chão seco?

Deus pula dentro de mim como alto-mar nas manhãs,
como a diferença das marés no porto, de que dependem os barcos para partir.
Mas por que tão descompassado? Por que aos saltos?
Deus não é uma casa de árvore a se desmanchar de velha.
Deus é novo. Novo! Não só eterno, mas novo.
Não uma pele esticada a se romper sobre o corpo,
mas uma presença entre os homens,
um companheiro a quem se dá o braço para ir ao café da esquina.
Por que então aos gritos me fala como um desconhecido a outro desconhecido?

2

Penso em Deus com rede de dormir dentro da noite,
na mata, sob as estrelas.
Noite suave, noite fresca mas sem ventos que a turvem:
luar que súbito invade, gritos úmidos,  mãe-da-lua longe.
Deus de repente, porém pressentido e manso.
Então me jogarei em Deus como um tambor reteso
e em fogo - mas de que nasçam apenas
sons encadeados de marcha voluntária
à espera da chegada do Reino na clareira.

E da alma brotarão rios de sono
para serem partilhados de porta em porta
como pão.

Rio, fevereiro de 72.
Odylo Costa,Filho
In Notícias de Amor
tela Van-Gogh

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