19/03/2012

REGRESSO



De regresso de uma viagem longa,
acho  em meu quarto a correspondência a esperar-me:
sento-me, abro aflito os envelopes,
e  o meu alento embaça o recinto gelado.

Ah, gente estranha, que vagueia e que procura
como eu: que me escreveis em tantas cartas?
Se não restassem noite e enigma por trás de tudo,
como seria a vida desolada e horrível!

Vossas cartas empilho na escura lareira:
para o que indagam todas, não tenho resposta...
Aquecei-vos comigo, com as chamas que elevam-se animadas!
Alegrai-vos comigo, com o dia que vem com o amanhã!

Hostil e frio é o mundo murado à nossa volta:
só o nosso coração parece aberto ao sol e às coisas boas.
Ah, como treme em nosso peito a assustada centelha
que ainda assim sozinha sobrevive aos espectros do mundo!

Hermann Hesse
In Andares
tela Cezanne

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