24/04/2012

MUSA



Nos ladrilhos da noite, quando os ermos se curvam
na linha da partida e o volume das águas
aumenta a sonolência dos ventos e marés,
eu sei que te levantas e passeias na praia
acendendo fogueiras e tentando o mais íntimo
das coisas recolhidas.
                                  É como se dançasses
nas espumas do rio, como se retomasses
o diálogo das naus e fosses decifrando
o sentido das nuvens no curso do ocidente.

Mas quando dás notícias de ti, das tuas ilhas,
e descreves o fascínio das coisas memoráveis
no outeiro que te guarda inteira nas manhãs,
eu sei que te debruças sobre os signos da areia
e cavas o teu silêncio até nos últimos
navios da viagem.
                                  E é como se teu gesto
fundasse a monarquia de outro descobrimento,
como se um novo périplo se abrisse no horizonte
das coisas na memória.

Gilberto Mendonça Teles
In Plural de nuvens
tela Joaquin Sorolla y Bastida

Nenhum comentário: