30/04/2012

SEMPRE




a Carlos Barral

                                                                                I                                      

A infância é sempre.
                                Nela
uma fonte canta
como canta
como cantam
uma romã preciosa de orvalho
e a luz da manhã sobre um menino.

II

Canta a fonte segundo
o sonho
da infância.
                    Sonha a fonte
uma lenda: 
                    casuarinas
ao vento; 
                    e o açude
denso de sonhos
de afogados.

III

Sonha a fonte
                      É cálida nas veias.
Docemente me afogo em seu murmúrio.
Desço aos castelos de seixos com suas damas,
que estão comigo desde a origem
e serão as mesmas em torno
do meu leito final.

IV

Sonha a fonte.Sonha como
sonha a moça na janela,
que sonha, assim calma e bela,
o sonho com que  sonho.

Canta a fonte.Como canta
a lua na água.A alma
na carne.A moça no sonho
com que a sonho em sua calma,

em seu sonho no castelo
de seixos, nessa  janela
em que ela é todas as damas,
que sonham seus sonhos nela.

Sonha a fonte, que me sonha.
Não há tempo nem distância.
Em parte alguma horizonte,
como, em si mesma, uma fonte.

V

A infância é sempre.
                                 Como uma fonte
canta
o canto
de onde nasce a fonte.
Como um menino compõe
a luz
        da manhã,
que sonha esse
menino,
             que a sonha 
como canta uma romã,
onde roreja
a perene manhã.

Ruy Espinheira Filho
In Memória da Chuva
tela Dorian Florez 

Nenhum comentário: