a Carlos Barral
A infância é sempre.
Nela
uma fonte canta
como canta
como cantam
uma romã preciosa de orvalho
e a luz da manhã sobre um menino.
II
Canta a fonte segundo
o sonho
da infância.
Sonha a fonte
uma lenda:
casuarinas
ao vento;
e o açude
denso de sonhos
de afogados.
III
Sonha a fonte
É cálida nas veias.
Docemente me afogo em seu murmúrio.
Desço aos castelos de seixos com suas damas,
que estão comigo desde a origem
e serão as mesmas em torno
do meu leito final.
IV
Sonha a fonte.Sonha como
sonha a moça na janela,
que sonha, assim calma e bela,
o sonho com que sonho.
Canta a fonte.Como canta
a lua na água.A alma
na carne.A moça no sonho
com que a sonho em sua calma,
em seu sonho no castelo
de seixos, nessa janela
em que ela é todas as damas,
que sonham seus sonhos nela.
Sonha a fonte, que me sonha.
Não há tempo nem distância.
Em parte alguma horizonte,
como, em si mesma, uma fonte.
V
A infância é sempre.
Como uma fonte
canta
o canto
de onde nasce a fonte.
Como um menino compõe
a luz
da manhã,
que sonha esse
menino,
que a sonha
como canta uma romã,
onde roreja
a perene manhã.
Ruy Espinheira Filho
In Memória da Chuva
tela Dorian Florez
Nenhum comentário:
Postar um comentário