O que se pensa não é o que se canta.
Difícil sustentar um raciocínio
com a rima atravessada na garganta.
Difícil sustentar um raciocínio
com a rima atravessada na garganta.
Mesmo o maior esforço não adianta:
da sensação à ideia há um declínio,
e o que se pensa não é o que se canta.
da sensação à ideia há um declínio,
e o que se pensa não é o que se canta.
Difícil, sim. E é por isso que encanta.
Há que sentir – e aí está o fascínio –
com a rima atravessada na garganta.
Há que sentir – e aí está o fascínio –
com a rima atravessada na garganta.
Apenas isso justifica tanta
dedicação, tanto autodomínio,
se o que se pensa não e o que se canta,
dedicação, tanto autodomínio,
se o que se pensa não e o que se canta,
mesmo porque (constatação que espanta
qualquer espírito mais apolíneo)
a rima atravessada na garganta
qualquer espírito mais apolíneo)
a rima atravessada na garganta
é o trambolho que menos se agiganta
nesse percurso nada retilíneo,
ao fim do qual se pensa o que se canta,
nesse percurso nada retilíneo,
ao fim do qual se pensa o que se canta,
depois que a rima atravessa a garganta.
Paulo Henrique Britto
tela Debra Hurd
In Tarde, 2007
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