09/09/2012

ESPUMAS



Procuras por ti
no papel em branco.
Parece que apenas
riscando  o papel
algo de teu rosto
te revelarás;
algo de tua  alma,
essa turva água;
algo do teu sonho
que apenas suspeitas
como sem tamanho.
 
No papel em branco,
letras, frases, versos
traças na procura
de luz que disperse 
a nuvem obscura
em que vais a esmo,
órfão de ti mesmo.
 
No papel em branco,
toda a esperança
de entender um pouco
esse canto rouco
que soa no peito
- mas sem se dizer,
resolvendo névoas
de espesso segredo
 
No papel em branco,
a busca infinita
(um tempo de vida)
que talvez não leve
senão à invenção
de mais outras névoas
sobre as névoas fundas
que jazem submersas
 
- e assim ficarão,
por mais que as invoques
ferindo, sujando
as brancas espumas
do papel em branco.
 
Ruy Espinheira Filho
In Elegia de Agosto
tela Gianni Strino

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