02/09/2012

MAGIAS

 


Ao vento de agosto as mãos do pai
eram especialmente mágicas.
Papel, cola, tesoura, talas de bambu.
As arraias subiam como pássaros em flor.
Era um céu suntuoso sobre a cidade.
 
Depois sopraram outros ventos.
 
O céu, porém, continuou o mesmo.
Só preciso erguer o olhar e lá estão 
                                                         as arraias
em toda a sua glória.
 
Acho que é por isso que ainda me demoro
por aqui
e até ouso, como agora,
algumas palavras
(ainda que pobres demais para a qualidade do papel
de rascunho).
 
E penso que talvez  sejam
por isso,
 
por magias como aquelas,
      nascidas das mãos do pai,
que o espírito de  Deus não mostra pressa em voltar
a se mover
sobre a face das águas.
 
 
Ruy Espinheira Filho
In Elegia de Agosto
tela Candido Portinari
  

Nenhum comentário: