Ao vento de agosto as mãos do pai
eram especialmente mágicas.
Papel, cola, tesoura, talas de bambu.
As arraias subiam como pássaros em flor.
Era um céu suntuoso sobre a cidade.
Depois sopraram outros ventos.
O céu, porém, continuou o mesmo.
Só preciso erguer o olhar e lá estão
as arraias
em toda a sua glória.
Acho que é por isso que ainda me demoro
por aqui
e até ouso, como agora,
algumas palavras
(ainda que pobres demais para a qualidade do papel
de rascunho).
E penso que talvez sejam
por isso,
por magias como aquelas,
nascidas das mãos do pai,
que o espírito de Deus não mostra pressa em voltar
a se mover
sobre a face das águas.
Ruy Espinheira Filho
In Elegia de Agosto
tela Candido Portinari
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