Escrevo a noite, sua lunar brancura
a iluminar as margens dos instantes,
a noite clara, sem depois nem antes,
que se desdobra, amante, na escritura.
Pressinto o gume dessa negra artéria
a alimentar o sonho da vigília,
seiva que salva o dia da armadilha
de parecer sem alma e sem matéria.
Escrevo o avesso do clareado dia -
com o vício de suas falas sem sabor -
numa impaciência que o papel adia.
Escrevo o escuro que o verso vislumbre:
o gesto urgente e puro de uma flor
colhendo sua existência na penumbra
Renato Tapado
In Moradas de Orfeu
Nenhum comentário:
Postar um comentário