11/12/2012

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Escrevo a noite, sua lunar brancura
a iluminar as margens dos instantes,
a noite clara, sem depois nem antes,
que se desdobra, amante, na escritura.

Pressinto o gume dessa negra artéria
a alimentar o sonho da vigília,
seiva que salva o dia da armadilha
de  parecer sem alma e sem matéria.

Escrevo o avesso do clareado dia -
com o vício de suas falas sem sabor - 
numa impaciência que o papel adia.

Escrevo o escuro que o verso vislumbre:
o gesto urgente e puro de uma flor
colhendo sua existência na penumbra

Renato Tapado
In Moradas de Orfeu

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