18/12/2012

AMIGA




Amiga:
coração aberto em ave na distância.
Estou perto, bem mais perto que imagino:
sol na clave que bem sabe seu destino
de menino viajante em tua pauta.

Amiga:
sou pra sempre a memória dos teus passos
e o espaço onde não cabe o que mais sinto.
Já não minto o que, por medo, deixei cedo
mal dormido sobre a noite dos meus lábios.

Não importa o calendário e as leis humanas
nem horários que mal cabem na semana.
Meu tempo é um maestro surdo e cego,
e não nego: hoje sei o que é eterno.

Amiga:
onde o livro dos poemas que eu não lia
se a palavra adormecida na criança
vem  e dança sobre o palco em que devia
ter gritado nos meus olhos para sempre?

Amiga:
quando um dia for eco de outro dia
e a saudade não buscar o seu oposto
mesmo assim, eu estarei na tua pele.
Nem que o que o tempo roube a forma do teu rosto.

Jaime Vaz Brasil
In Moradas de Orfeu
tela Kelvin Lei

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