18/12/2012

QUINTAIS DO CORAÇÃO




Aquilo que em mim um dia
é aço, pedra e sentença,
no outro é Deus ou descrença.

E o que às vezes me crava
a febre de mergulhar,
outras vezes me flutua.

Aquilo que em mim um dia
é norte, grito e certeza
no outro, é não-sei-mais-nada.

E o que às vezes me situa
na fome de achar destino
outras vezes nega a estrada.

Nesse palco de estar vivo
abre o pano e sou aquele 
que não foge nem atua.

Sem roteiro e itinerário
sou uma estátua de carne,
e o avesso do contrário.

Quantas metades me cabem 
quantas verdades me sobram
quanto meu corpo me cobra
por tudo quanto não sabe...

Na casa da minha pele
me hospedei, sereno e mudo
no meio da rebelião.

Mas entre o medo e coração
há uma fresta onde escapo
da viagem, desde cedo.

Por isso entendo e aceito:
cada sentido é um menino
que rindo , brinca de roda

nesse pátio de brinquedo
que virou meu coração.

Jaime Vaz Brasil
In Moradas de Orfeu 
tela Irina Kotova

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