Aquilo que em mim um dia
é aço, pedra e sentença,
no outro é Deus ou descrença.
E o que às vezes me crava
a febre de mergulhar,
outras vezes me flutua.
Aquilo que em mim um dia
é norte, grito e certeza
no outro, é não-sei-mais-nada.
E o que às vezes me situa
na fome de achar destino
outras vezes nega a estrada.
Nesse palco de estar vivo
abre o pano e sou aquele
que não foge nem atua.
Sem roteiro e itinerário
sou uma estátua de carne,
e o avesso do contrário.
Quantas metades me cabem
quantas verdades me sobram
quanto meu corpo me cobra
por tudo quanto não sabe...
Na casa da minha pele
me hospedei, sereno e mudo
no meio da rebelião.
Mas entre o medo e coração
há uma fresta onde escapo
da viagem, desde cedo.
Por isso entendo e aceito:
cada sentido é um menino
que rindo , brinca de roda
nesse pátio de brinquedo
que virou meu coração.
Jaime Vaz Brasil
In Moradas de Orfeu
tela Irina Kotova
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