É INTERIOR à minha mágoa
A alegria do dia claro...
Oh nudez trémula da água...
Porque me sinto eu desolado
De haver tanta calma e alegria
E nenhuma em meu ser cansado...
Acaso não me bastaria
Olhar a alegria da terra
E ser alegre como o dia?
Ah, ensina-me, ó Natureza,
A dar minha alma inteiramente
À calma da tua beleza
A não ter alma salvo a hora
A pertencer-te, ampla alma rente
À tua alma geradora
Qualquer coisa que não seja esta
Agonia do pensamento
Que é o que do meu ser me resta...
Sopra, sopra, sopra, vento...
Grande invisível alma em festa...
Que há entre mim e o momento?
Fernando Pessoa
In Poesia 1902 - 1917
tela Théodore Robinsom
Nenhum comentário:
Postar um comentário