05/02/2013

***


É INTERIOR à minha mágoa
A alegria do dia claro...
Oh nudez trémula da água...

Porque me sinto eu desolado
De haver tanta calma e alegria
E nenhuma em meu ser cansado...

Acaso não me bastaria
Olhar a alegria da terra
E ser alegre como o dia?

Ah, ensina-me, ó Natureza,
A dar minha alma inteiramente
À calma da tua beleza

A não ter alma salvo a hora
A pertencer-te, ampla alma rente
À tua alma geradora

Qualquer coisa que não seja esta
Agonia do pensamento 
Que é o que do meu ser me resta...

Sopra, sopra, sopra, vento...
Grande invisível alma em festa...
Que há entre mim e o momento?

Fernando Pessoa
In Poesia 1902 - 1917
tela Théodore  Robinsom

Nenhum comentário: